As montanhas sentem o impacto do aquecimento global com particular acutilância, pois não há fuga possível para os seres vivos que não se consigam adaptar. A redução drástica na precipitação de neve traduz-se por uma diminuição da disponibilidade local de água e alteração dos ecossistemas, mas também na diminuição do caudal dos rios que garantem a sobrevivência das cidades a jusante. O impacto sobre um turismo baseado na neve é também evidente: eis a oportunidade de reforçar outros turismos que possam servir para aproximar os visitantes dos territórios e das suas dinâmicas. O que pode a arte? Como lidar com os desequilíbrios ecossistémicos? Como resistir à violência social, política e económica gerada pelos fenómenos climáticos e suas consequências? Como inventar novas formas de ação e reconstruir laços de solidariedade num mundo ainda por vir? O PES investiga os territórios de montanha através da arte, abordagem que combina um olhar sensível com investigação científica e contribui para a compreensão dos tempos conturbados que vivemos. O PES preocupa-se com a sobre-exploração e o extrativismo e torna-se um laboratório de experiências. Mas na região mediterrânea, onde há milhares de anos o território evolui junto com os seres humanos, as montanhas precisam ser habitadas se queremos preservar o ecúmeno. Como respeitar as montanhas e viver em simbiose com elas e com outros seres vivos que as habitam?
Esta exposição coletiva de trabalhos in progress do Projeto Entre Serras, integrada no seminário Paisagem, arte e turismo sustentável, mostra trabalhos de investigação e criação artísticas realizados no âmbito de ações que vêm sendo desenvolvidas desde 2017. Os artistas, com o apoio de agentes locais, propõem-nos uma experiência de leitura da paisagem que incorpora as mudanças em curso. Juntos, com os diferentes públicos, exploram, experimentam e produzem novas formas e situações. Contribuem para a construção de novas narrativas que, esperamos, conduzam a novas pistas para re-cosmizar o mundo. A arte conta novas histórias e novas relações, para que as montanhas continuem a ser um refúgio e uma fonte de inspiração.