Rodrigo Braga
PONTO ZERO é o título do trabalho que Rodrigo Braga desenvolveu durante uma residência nas Aldeias do Xisto no Concelho do Fundão entre Julho e Agosto de 2019.
PONTO ZERO
O que vê, sente, percebe e cria um artista quando passa uma temporada por entre as Aldeias do Xisto, no interior de Portugal, nas margens do rio Zêzere, por trilhos em terras mineiras, por entre florestas de pinheiros mais ou menos ardidas? Essa foi a proposta do Projeto Entre Serras ao brasileiro Rodrigo Braga, habituado a expressar-se por mimetismo com a natureza nas suas distintas exuberâncias, da imensidão amazónica à secura do sertão brasileiro e depois a tantas outras paisagens de diversos continentes.
Braga apresenta-nos as suas descobertas e o seu processo ao sair da sua caverna. O artista recorre a elementos e materiais distintos e contrastantes que se confrontam, mas que também nos mostram a interdependência de um para existir o outro. A escuridão e a luz. A ignorância e o conhecimento. Saindo da sombra e do senso comum, o artista percorre as profundezas de uma terra queimada e explorada, e encontra a formação mais básica e primária de um lugar: a pedra.
A morte da natureza é vivida e o artista entende-se parte do todo: despe-se e arranca os cabelos, sendo capaz de mimetizar com o lugar onde está, mas que também é de onde viemos e para onde vamos. Como se compreendesse a necessidade de morrer para renascer, Braga mergulha em si mesmo e chega ao centro da terra, apresentando-nos uma tentativa de recomeçar do zero. O homem, o meio, e as suas interações.
O preenchimento desse espaço só é possível depois de esvaziado por completo. Assim, o artista apresenta um renascimento do globo desde o seu cerne, com pedras que são chocadas por um homem também na sua forma mais primitiva.
Ponto Zero oferece-nos um caminho de pedras já lapidadas pelas mãos de Rodrigo Braga, a ser descoberto se nos quisermos aventurar a também sairmos das nossas próprias cavernas.
Marcella Marer