Esta instalação de Laetita Morais propõe a visualização simultânea de contraditórias qualidades territoriais da região entre o Cabeço do Pião e a Barroca do Zêzere. Relatos documentais ou devaneios urgem questionar os efeitos da exploração mineira na paisagem e na vivência dos seus habitantes.
Os minerais recolhidos do subterrâneo e expostos à luz, na forma de colinas invertidas – as chamadas lavrarias ou escombreiras – impõem-se numa paisagem, onde resta muito pouco de pristino.
Esperança Antunes e o seu companheiro José Catarino percorrem, duas vezes ao dia, o ténue caminho que separa o rio Zêzere das lavrarias de minério. Ao longo desse caminho – dizem eles – ou se canta, ou se chora, ou se remete ao silêncio. Contudo, nada é autoevidente – as imagens movem-se na relação intrínseca entre efeito-afeto e é precisamente pela indeterminação que esta obra se apresenta.
Recorde-se a definição de «terceira zona» de Michel Serres, onde nem o Sol nem a Terra são o centro. Ele refere que o centro real de uma órbita se situa entre a esfera brilhante e o ponto sombrio (1).
Deslocar matéria do centro da terra para o seu exterior parece igualmente influir a trajetória do que o circunda: Esperança declara o seu intento, a cobra canta e o rio morre.
Os registos vídeo e áudio foram produzidos por Laetita Morais em Agosto 2019, com o apoio das Aldeias de Xisto. Relatos documentais ou devaneios urgem questionar os efeitos da exploração mineira na paisagem e na vivência dos seus habitantes. Os minerais recolhidos do subterrâneo e expostos à luz, na forma de colinas invertidas as chamadas lavrarias ou escombreiras – impõem-se numa paisagem onde sobra muito pouco de pristino.